Luta de classes...

A conciliação entre a vida profissional e a vida familiar é uma contradição nos termos. O conceito de conciliação entre estas duas vidas não existe: não há mais ou melhor conciliação, pura e simplesmente não há conciliação possível. O que existe é uma revolução, um conflito perpétuo e diário, um PREC que nunca termina o seu curso, uma luta pela sobrevivência de cada uma destas vidas. Enfim, uma batalha fatídica entre a vida e a morte em que no final só uma é que se mantém de pé. Falar em conciliação neste tema é o mesmo que falar em paz no Médio Oriente. Vale o que vale. E isto porque os nossos filhos jamais permitirão que existam tréguas, que haja acordo, que se chegue a um entendimento. Para eles a vida profissional dos pais é uma espécie de Bin Laden que tem de ser caçado e eliminado em nome da paz. 

E em tempo de guerra vale tudo, não existem regras. Todas a birras, chantagens, pressões psicológicas ou crises emocionais são válidas nesta luta contra a vida profissional dos pais. No fim do dia quem sofre são os pais (o povo). Uma mãe (principalmente) ou um pai vive, por isso, em constante conflito e tem dentro de casa o seu principal inimigo. Os verdadeiros terroristas estão ali: os filhos, os verdadeiros agentes de pressão. Os filhos não percebem porque é que existem outros compromissos além deles, que outras lealdades têm os seus pais, porque raio de carga de água é que a mãe vai trabalhar quando eles estão mais tristes, ou porque é que chegam tarde. Claro que o facto de não saberem ver as horas torna este processo absolutamente insuportável e o conflito ainda mais sangrento. Por isso, enquanto não se assumir que a conciliação entre a vida profissional e a vida familiar é um conflito, não existirá conciliação possível. Sendo, neste caso, a luta de classes – a classe dos filhos e a classe dos pais – a verdadeira solução.

Inês Teotónio Pereira
in "I"

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