As crianças e a religião...

As crianças nascem crentes e crescem religiosas. Elas acreditam em tudo: em fantasmas, no pai Natal, no lobo mau ou na fada azul. Não peneiram, nem editam as crenças: acumulam crenças. São multi-crentes. Não têm qualquer preconceito, e quanto mais exotérico, estranho e improvável, melhor. Mais credível é. Mais sobrenatural e, por isso, mais fascinante. E se houver ritos, então, é uma maravilha: podem brincar.

As crianças ainda não dividiram o mundo entre aquilo que é normal e aquilo que não é. Para elas é tudo normal e possível: estar em todo lado, ler as mentes, ser invisível, voar, ter asas. Não há limite. A lógica racional é qualquer de castradora para os seus cérebros em acelerada evolução. Por isso, qualquer criança tem fé. Tem fé em Deus ou no Pai Natal, mas tem fé. (Deve ser por isso que Nossa Senhora apareceu a três crianças, se tivesse aparecido a três adultos eles teriam fugido esbaforidos de braços no ar rumo à esquadra mais próxima e teriam sido entrevistados pelo jornal Incrível da época).

As crianças não duvidam, apenas questionam. Elas fazem perguntas para esclarecerem a sua fé, não é por duvidarem dela. Querem pormenores: como é que não caímos do Céu, como é que Jesus cabe em tantos corações, como é que o Pai Natal entra nas casas que não têm lareira, por que é que a fada dos dentes faz colecção de dentes? Só quando deixam de ser crianças é que entram no campo da incredibilidade e já não querem saber.

Mas durante a infância são as ovelhas mais fiéis que qualquer religião possa ter. É que além desta aceitação inata pelo sobrenatural, ajuda o facto de as crianças serem absolutamente maniqueístas. Nas suas cabecinhas existe o bem e o mal e os maus estão de um lado e os bons estão no outro; eles não se misturam, como no mundo dos adultos. Por isso aliam a sua religiosidade à justiça. É tudo mais fácil, portanto.

Inês Teotónio Pereira


As minhas filhas adoram ir à catequese, e eu (nós) senti-mo-nos felizes pela catequista ser uma miúda de 19 anos que as "cativa" e orienta em matéria dos nossos valores católicos. O estranho é que logo após a saída da catequese - já dentro do carro - andem "às turras" esquecendo, por momentos (mais ou menos) prolongados, os ensinamentos cristãos! 

Comentários

  1. Caro confrade Ricardo!
    Apreciei o artigo da articulista!!!
    Caloroso abraço! Saudações incrédulas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP


    PS - Ficou supimpa a imagem de fundo do seu blog!!!!

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  2. O artigo é muito realista. Interessante perceber que nossas crianças aderem às crenças e valores pré-concebidos pela sociedade sem dar margem a tirar suas próprias conclusões. Parecem marionetes, a serem manejadas por outros atores.
    Não sou contra os valores cristãos. Aliás, compactuo com alguns deles. Só acho que todos deveriam ser livres para refletir e decidir o que é melhor para si.
    :)

    Um abraço

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  3. Não é nada estranho, Ricardo.
    É normal.
    E o texto da Inês Teotónio Pereira excepcional.
    Aquele abraço

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