Sobre as desgraças


Um dos meus filhos que é do Sporting, habituado portanto ao dissabores e às desilusões da vida, confessava-me que as únicas notícias que ele gosta de ver na televisão são as notícias sobre futebol. Porque, e cito, "as notícias de futebol não falam de desgraças". Isto dito por uma criança do Sporting e que nem sequer gosta muito de futebol, exige o dobro da atenção e é bastante revelador: as nossas crianças detestam informação, notícias, actualidade e telejornais. E percebe-se porquê. É certo que a vida é difícil, que existem guerras a mais no mundo e que o ânimo foi de férias para parte incerta, mas também é verdade que as notícias deprimem ainda mais que a realidade. E deprimem uma família inteira. Mas como as crianças não se esforçam para gostarem ou para se interessarem pelas coisas - elas gostam ou não gostam -, elas também não se esforçam para ver um telejornal. Acham tudo aquilo deprimente e por isso voltam as costas ainda o apresentador não acabou de ler o primeiro parágrafo no teleponto. 

Qualquer família que se reúna em volta de um qualquer telejornal é ao fim de meia hora uma autêntica bomba relógio de má disposição e representa um verdadeiro perigo para os seus membros, para a boa disposição nacional e até para a alegria familiar. Ora, isto é um dilema para qualquer pai ou mãe que se queira manter informada, assim como a toda família, e ao mesmo tempo ter em casa um ambiente alegre. Impossível. A televisão, não deixa. Alegria, boa disposição e optimismo são absolutamente incompatíveis com qualquer telejornal português. E é por isso que os meus filhos confundem notícias com crise, realidade com depressão e jornalismo com drama. 

A boa notícia é que as derrotas do Sporting já são, no fundo, boas notícias. Quanto ao resto, receio que estejamos a criar uma geração de iletrados noticiosos. Ou coisa parecida. 

por Inês Teotónio Pereira, in "I"


Tenho, cada vez mais, esta sensação também em relação a muitas famílias portuguesas, nas quais me incluo, de que na necessidade premente de manter a sanidade mental devemos evitar ver telejornais, debates de grande nível (do género Alfredo Barroso/Teresa Caeiro) e outros sucedâneos, passar a ver o Dia Seguinte, o Mais Futebol, aqueles todos, e todos os dias, da RTP-N, enfim, porque não são tão chocantes as afirmações de um qualquer Bimbo, Carvalho ou Paciência em contraponto com as do Álvaro, do Gaspar, do Coelho, entre outros!

Comentários

  1. A nossa civilização é em grande parte responsável pelas nossas desgraças. Seríamos muito mais felizes se a abandonássemos e retornássemos às condições primitivas.


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    Um abraço e parabéns pelo blog! Adriana
    adrianavargas.ocadv@hotmail.com

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  2. Ai amigo, como concordo com tudo isso!

    Outro dia, marido e eu estávamos assistindo ao Jornal Nacional, e em dado momento ele exclamou: - "Meu Deus, mas esse jornal só falta respingar sangue na gente!!!..."

    É verdade! Infelizmente é a mais pura verdade!
    Após uma notícia ruím, vem sempre uma péssima.
    Será que as boas notícias sumiram?
    O que vai ser dessa geração que está apenas começando a viver e a conhecer o mundo?

    Só Deus!

    Beijos,

    Cid@

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