Contemplo o que não Vejo

Contemplo o que não vejo. 
É tarde, é quase escuro. 
E quanto em mim desejo 
Está parado ante o muro. 

Por cima o céu é grande; 
Sinto árvores além; 
Embora o vento abrande, 
Há folhas em vaivém. 

Tudo é do outro lado, 
No que há e no que penso. 
Nem há ramo agitado 
Que o céu não seja imenso. 

Confunde-se o que existe 
Com o que durmo e sou. 
Não sinto, não sou triste. 
Mas triste é o que estou. 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Comentários

  1. Um trabalho à Pessoa!

    Muito bom.

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  2. E que diz muito do meu estado de espírito actual!

    Abraço

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  3. Amo Fernando Pessoa!
    Esse poema eu ainda não conhecia. Obrigada por partilhar conosco ;-)

    Tudo de bom pra você e os seus.

    Beijinhos da sua vizinha de frente,

    Cid@

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  4. Poema fabuloso! A tristeza, por vezes, é um estar e não o ser. Estar triste não significa ser triste. Abç!

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  5. Caros Cid@ e Sérgio,

    Pessoa é talvez o expoente máximo da Língua Portuguesa (a nossa língua), e por sermos muitos (para tal muito contribui o Brasil e os outros PALOP) muito nos invejam.

    Abraço do tamanho da nossa querida Língua aos dois!

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