Ouvir a Ler

Ouvir a Ler

Por Isabel Stilwell e Ana Fonseca

Não existem aulas, nem "especialistas" para ensinar uma criança a falar. A linguagem surge da relação de amor e de reciprocidade entre pais e filhos e principalmente depois de a criança ter passado quase um ano inteiro a ouvir.  Mas quando falamos de aprender a ler, o cenário muda de figura.

Atribuímos à escola um papel fundamental nesta função, deixando-nos escorregar para um lugar secundário em relação aos que consideramos serem os especialistas nesta área. Morremos de medo - mesmo que inconfessado - de que o nosso filho fique para trás de alguma maneira.

Os estudos europeus indicam que as crianças nórdicas de seis anos já vão para a escola com 500 horas de "ouvirem ler" na mochila e que a contribuição dos pais para a aprendizagem da leitura é essencial. Deixam assim bem claro que a melhor "aula de leitura" é aninha-los ao nosso colo, abrir as páginas de um livro e ler-lhes, seguindo as linhas com o dedo, para que a criança vá percebendo que o som que a mãe/pai faz coincide com um conjunto daquilo que ela considera, num primeiro momento, apenas "desenhos". E gostarmos nós próprios de ler e não fazer disso uma actividade pedagógica, mas um momento de partilha.

Por isso, muitas vezes, em casa e na escola, damos-lhe ao pequeno-almoço, almoço e jantar letras e letras, repetidas no caderno, vezes sem conta... Esquecemo-nos de que se as crianças estiveram um ano inteiro a ouvir falar para aprender a fazê-lo. Talvez a chave da leitura esteja também no ouvido!

Uma criança só aprende a ler e, mais importante, só vai querer aprender a ler se viver fascinada por um mundo de códigos que já percebeu que pode ser decifrado, porque viu que os adultos o decifram, acabando por ser ela própria a "pedir" para o fazer, na ânsia de descobrir o que vem a seguir.

Temos de lhe mostrar que os livros dão imensa informação, mas acima de tudo muito prazer! Deixá-la associar as letras, os sons, as entoações à voz das pessoas de quem mais gosta, associando a leitura a momentos tranquilos, de aventura e de emoção! Se desde o útero conhece a voz da mãe e do pai, este é sem dúvida o melhor veículo para transmitir o entusiasmo pela leitura.