Uma espécie de manifesto infantil

Ao contrário do que acontecia nos regimes absolutistas e na Idade Média, é agora que as crianças não têm qualquer liberdade. É agora, que já não há enforcamentos, que as crianças se vêem privadas de um direito fundamental para os seus pais: a liberdade. As nossas crianças vivem presas num mundo onde lhes é dado tudo, mas não ninguém confia nelas: não fazem a cama, mas também não podem brincar fora de casa sem controlo - como os presos quando vão apanhar ar e esticar as pernas.



À geração do milénio, que não tem nome nem idade para escrever um manifesto, foram negados direitos básicos em nome da segurança, em nome da protecção do armário dos detergentes. Foi negada a liberdade de circularem sozinhos ou de brincarem com paus porque podem vazar um olho.



E isto é assim porque os pais desconfiam que as crianças são tontas, não sabem desenvencilhar-se de ameaças como um terrível baloiço. Do ponto de vista dos pais, os filhos não têm a mínima possibilidade de escapar ilesos a uma ida à mercearia do fim da rua, quanto mais de chegar vivos à escola se forem a pé... (se tivesse sido sempre assim, ninguém tinha inventado o Capuchinho Vermelho).



Por outro lado, a liberdade é qualquer coisa que custa a dar quando não sabemos exactamente o que vão fazer com ela - ainda alguém se magoa, sei lá... É assim como nas ditaduras: é sempre pelo bem do povo que não há democracia - entre a segurança e a liberdade, venha a ASAE, claro.



por Inês Teotónio Pereira, Publicado em 19 de Março de 2011

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